Jair Bolsonaro luta pela sua sobrevivência. Por dezenas de vezes ao longo da campanha e já no cargo, o presidente alertou publicamente sobre a possibilidade de uma tentativa de afastá-lo do Planalto. A hipótese parece hoje remota, mas é importante ter em conta que o presidente considera que está em curso uma operação para a sua deposição.
Ao jornalista Fernando Dantas, do Estadão, o cientista político Octavio Amorim Neto, da Ebape/FGV, analisou que Bolsonaro acumula os quatro elementos clássicos que a literatura acadêmica revela serem as condições para impeachment ou outras formas de destituição de presidentes na América Latina: manifestações maciças de rua, recessão econômica, posição frágil e minoritária no Congresso e algum escândalo importante.
Manifestações – Os protestos de quarta-feira, 15, em mais de 200 cidades foram simbólicos por unir oposicionistas radicais a milhares de pessoas que votaram no próprio Bolsonaro, mas hoje rejeitam o discurso ideologizado do ministro Abraham Weintraub. Sem compreender que a eleição já foi, a guerrilha digital do bolsonarismo distribuiu milhares de posts acusando as universidades de antros de drogas, orgias e desperdício. Terminaram ampliando a adesão aos protestos.
Eleito por 58% da população, a popularidade do presidente caiu para um terço em quatro meses. É a queda mais brusca de um presidente eleito.
Economia – A recessão ainda é uma hipótese estatística, mas 2019 está perdido e nenhuma ação do governo tenta atenuar as dificuldades dos 13 milhões de desempregados. Em nenhum discurso, pronunciamento ou atitude, Bolsonaro demonstrou sua empatia com os desempregados.
Denúncias – O escândalo que pode arrastar Bolsonaro para o centro do furacão envolve o filho Flávio. A força das investigações do Ministério Público do Rio pode arrasar todo o discurso anticorrupção que elegeu Bolsonaro. Até o momento, Flávio foi incapaz de dar uma explicação convincente sobre seus rendimentos e a atuação de seu ex-assessor, Fabrício Queiroz.
Política – Dos quatro elementos, nenhum é tão é óbvio quanto a fragilidade no Congresso. Embora tivesse o desejo de adesão de todos os partidos, Bolsonaro se fiou no discurso da criminalização da política. Dez entre dez deputados do Centrão, por exemplo, acreditam que depois da aprovação da reforma da previdência, Bolsonaro e o ministro Sergio Moro irão atacar os congressistas.
Isso significa que o presidente vai cair? A preços de hoje, não. Mas demonstra a fragilidade do presidente, inédita para quem assumiu o cargo há menos de cinco meses. Essa fragilidade é um fator nas atitudes do presidente e do Congresso daqui por diante.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil