O surpreendente enfraquecimento político de Bolsonaro implica na ocupação de espaços pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e os militares.
Maia tomou para si o papel de fiador da reforma da previdência, o único tema que palpita os corações dos investidores. Impôs o trâmite de uma nova emenda, assumiu o papel de indicar os relatores das comissões e abriu conversas com a oposição para um acordo. A reunião de JB com os governadores na quarta-feira é resultado direto da influência de Maia, que sabe como eles podem influenciar os deputados nos dias de votação.
A feição mais visível do avanço militar é o vice-presidente Hamilton Mourão, mas ele não atua sozinho. Uma vez empossado, Mourão adotou o figurino do adulto na sala, rejeitando as idiotices do novo ministro de Relações Exteriores, abrindo canais com a mídia e assumindo publicamente que os militares participariam da reforma da previdência. Mas a atuação interna é mais interessante. São sete ministros com origem militar, além de generais chefiando da Funai ao Incra, da Secretaria de Assuntos Estratégicos à Itaipu. No Ministério do Meio Ambiente, militares serão indicados para chefiar as 27 superintendências do Ibama. Na minuta de reforma da Previdência obtida pelo Estadão, há a possibilidade de militares da reserva ocuparem cargos civis sem perder os benefícios (hoje eles só podem atuar em cargos de comissão). No Ministério da Educação, a Universidade Federal Fluminense colocou um capitão da Marinha para assessorar o reitor. Sem propostas que parem em pé, o ministro Velez demonstra um fetiche pela militarização das escolas. Contados todos os cargos nomeados pelo governo, um em cada três são militares.
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados