A tumultuada eleição para a presidência do Senado exacerbou um novo eixo de pressão na política, as redes sociais. Responsáveis diretas pela força inicial da campanha de Jair Bolsonaro, as redes foram responsáveis pela eleição de dúzias de parlamentares cuja única experiência prévia eram vídeos de Youtube e posts no Facebook. Nas duas primeiras sessões do Senado as redes mostraram que também influenciam o resultado de votação no Parlamento.
Ao contrário de 2013, não houve manifestações de rua contra a candidatura do senador Renan Calheiros, mas a cobrança virtual para que senadores abrissem seus votos na eleição interna foi decisiva para a derrota. O constrangimento gerado junto aos parlamentares no Twitter e no Facebook foi tamanho que, na prática, superou a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, de manter a votação fechada. Pressionados, os senadores passaram a exibir as cédulas aos fotógrafos ou declarar o voto no microfone e em suas redes sociais, a despeito de o Código de Ética interno prever punição. “Temos que respeitar o tribunal dos aeroportos”, definiu o senador Major Olímpio (PSL-SP). Jorge Kajuru (PSB- GO) abriu uma enquete no Facebook para que seus seguidores escolhessem o seu candidato. Afirmou depois que, em função da enquete, mudou o seu voto do senador Reguffe (sem partido- DF) para o novo presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Quem manteve o voto em sigilo, como o estreante Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), era criticado intensamente nas redes por falta de transparência. Na segunda votação, o filho do presidente revelou o seu voto, fato decisivo para a renúncia de Renan.
Impacto na agenda econômica
O Congresso é por natureza poroso às pressões populares. Nos anos 90, os parlamentares temiam estar nos cartazes de “traidores da classe trabalhadora” afixados em outdoors pela CUT. Conta-se às dezenas os casos de plenários lotados de corporações que mudaram o rumo de votos de deputados aos berros de “quem vota, não volta”. As redes são os novos canais dessa pressão.
Compreender a dinâmica da relação entre as redes sociais e o Congresso será essencial para avaliar o êxito da agenda econômica. O caso da reforma da previdência é emblemático. Todas as pesquisas comprovam que há uma maioria contrária às mudanças no sistema de aposentadoria, mas sabe-se ainda pouco sobre como essa maioria irá se comportar quando o projeto voltar a tramitar e como os parlamentares reagem frente às pressões. Manter um termômetro apurado e sistemático junto às redes dos parlamentares é a única forma de entender como essa relação irá funcionar.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado