22 de novembro de 2024
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A operação Lava Jato como nós a conhecemos acabou. As seguidas revelações do site The Intercept de mensagens trocadas entre o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores de Curitiba são indecorosas. A reportagem da revista Veja desta semana mostra diálogos promíscuos entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol. De acordo com a revista, Moro teria orientado procuradores da Operação Lava Jato a anexar provas para fortalecer a parte acusatória num processo, sugerido datas de operações da Polícia Federal, se colocado contra as negociações de uma delação premiada de Eduardo Cunha e sonegado informações ao então ministro responsável pelo caso, Teori Zavascki. Foi a reportagem mais grave das publicadas até o momento.

O desgaste da Lava Jato é acentuado pela postura de Moro, ora minimizando as revelações, ora acusando seus questionadores de “defenderem corruptos”.

Nas entrevistas, sessões do Congresso e notas, Moro tem se comportado cada vez mais como um político e menos preocupado com os efeitos do escândalo sobre a Lava Jato. No evento da XP, defendeu a reeleição de Bolsonaro e sorriu ao falar do seu futuro eleitoral. É preocupante que nem Moro nem a Polícia Federal tenham negado a informação do site Antagonista de uma investigação contra o jornalista Glenn Greenwald.

Imparcialidade em xeque

Mais até que os diálogos, a reação de Moro às suspeitas de parcialidade contamina a Lava Jato. Vamos pegar um exemplo prático: a delação dos executivos da construtora Andrade Gutierrez, homologada em fevereiro de 2016, relata o pagamento de 2% do valor das obras da usina de Belo Monte em propinas para PT e PMDB. A PF abriu inquérito e seria factível supor que a Polícia Federal chamasse os políticos citados (hoje todos sem foro privilegiado) para explicações. Pois bem, qual seria a reação geral se a PF fizesse o seu trabalho agora? Obvio que seria considerado uma cortina de fumaça. O exemplo se repete sobre outras investigações.

Isso não significa que a Operação acabou, apenas que precisará ser mais comedida para recuperar sua credibilidade. Entre os feitos da Lava Jato está a sua capacidade de submeter a mídia ao seu ritmo. Com a notável exceção do sítio de Atibaia, todas as demais reportagens sobre o escândalo foram produzidas com base em informações dos delegados e procuradores. Isso criou uma relação de dependência que explica a forma acrítica como muitos jornais trataram a operação nesses cinco anos. Um episódio ilustra essa simbiose. Em maio de 2017, a então ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, relatou que os procuradores de Brasília promoviam “entrevistas coletivas off-the-record” para antecipar aos jornalistas informações das delações dos executivos da Odebrecht. A reação da PGR foi não convidar mais os repórteres da Folha para as outras revelações.

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

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