Por mais chocantes que sejam as declarações presidenciais não há, neste momento, possibilidade de um processo de impeachment de Bolsonaro. Primeiro porque Paulo Guedes mantém a agenda liberal acordada na campanha com a elite financeira e empresarial. Segundo porque a oposição sequer acordou do golpe da derrota de outubro quanto mais recuperou a capacidade de articular movimentos de rua massivos. Por fim, não há uma opção. Por mais que Bolsonaro desconsidere seu vice, o general Hamilton Mourão baixou o tom das articulações. Os processos de impeachment no Brasil são montados em três eixos, a crise econômica, protestos de rua gigantes e uma clara alternativa de substituição. Hoje nenhum desses três requisitos está completo.
Isso não significa um clima político normal. O novo normal é o que vimos nesses sete meses, um presidente voluntarioso testando os seus limites. Em uma improvisada entrevista ao jornal O Globo, o presidente disse:
“Sou assim mesmo. Não tem estratégia.”
Populismo
É uma meia verdade. Bolsonaro age por instinto, o que por vezes dá a impressão de improviso, mas o capitão tem rumo. Sua prioridade é fidelizar o seu núcleo duro, i.e., a extrema direita olavista, ruralistas, evangélicos, caminhoneiros e policiais, e isolando a chamada Velha Política. Às vezes esse populismo de contato direto dá certo, como na campanha. Às vezes dá errado, como nas vaias ao presidente no jogo do Palmeiras contra o Vasco no sábado, dia 27.
O que veremos nos próximos meses será o presidente jogando os seus eleitores contra esse establishment, com uma reação na direção contrária com a mesma força. É a Lei de Newton da política. Se a elite política e judicial considerar que suas carreiras estarão em risco com Bolsonaro vão se voltar contra ele e gerar alternativas de poder. Num cenário de corda esticada, se economia não der resultados palpáveis aí, sim, o fantasma do impeachment pode retornar.
Foto: José Cruz/Agência Brasil