Um ano atrás seria inimaginável que o Congresso estivesse às portas de concluir a votação de uma reforma da previdência com economia de R$ 800 bilhões em dez anos. A obtenção de licença do STF para privatização das subsidiárias de estatais, a aprovação no Congresso da Lei da Liberdade Econômica e do Marco das Telecomunicações, a diluição do controle da BR Distribuidora, a criação do Comitê de abertura do mercado de gás e a possibilidade de o megaleilão do pré-sal ainda ocorrer neste ano são avanços sólidos na economia.
O risco, como este Report não se cansa de repetir, é Jair Bolsonaro. A sua política de confronto piorou a imagem do Brasil no Exterior, colocou em risco o acordo com a União Europeia e dificulta a retomada da economia.
Em 2020, a paciência da sociedade será menor. A demora em resultados visíveis na economia cotidiana e a insistência do presidente em gerar muita fumaça e pouco calor tende a tensionar as relações política ao extremo. No ano que vem, o Congresso será muito menos cordato e a inoperância bolsonarista cobrará um preço mais alto.
Desaceleração econômica
Todos os principais parceiros do Brasil estão crescendo menos neste ano, e essa desaceleração deverá se aprofundar em 2020. Nos EUA, apesar dos dados de sexta-feira terem descartado uma recessão, há uma queda importante da atividade industrial, que afeta outros setores. O Fed prevê um PIB de 2,2% neste ano (ante 2,9% em 2018) e de 2% em 2020. Na China, vários indicadores sugerem que o crescimento real da economia está abaixo do dado oficial divulgado pelo governo. Na Europa, ainda antes do Brexit, Alemanha, Reino Unido e Itália estão com perspectivas de queda.
Num cenário com guerra comercial EUA-China, Argentina no buraco, instabilidade no petróleo com possíveis atentados, o efeito no mercado financeiro será de aversão ao risco e mais cautela em investimentos em mercados como o Brasil. É nessa conjuntura que Bolsonaro deveria atuar.
Foto: Alan Santos/PR