Em sua primeira entrevista como presidente reeleito, Rodrigo Maia, tomou de Jair Bolsonaro o protagonismo da reforma: “A nova forma de Bolsonaro trabalhar pode não gerar 308 votos no curto prazo”, afirmou, se referindo à intenção do Planalto de promover acordos via bancadas temáticas e não através das lideranças partidárias. “O presidente começa o seu governo organizando a base de uma outra forma, eu não tenho clareza se ele tem o espaço necessário para ter os 308 votos (o mínimo para mudar a Constituição”, disse. O presidente da Câmara explicou que é preciso um período de “transição” para assimilar o novo funcionamento da base governista e que esse período poderá “não gerar” os 308 votos “no curto prazo”.
Maia previu que a proposta de reforma deve levar, “no mínimo”, dois meses de debate na Casa e que será aprovada apenas através um “pacto” de governadores e prefeitos. Desde o governo Temer, Maia tem repetido que sem o apoio ostensivo de governadores a reforma não seria aprovada.
“Tem espaço para que a Câmara possa intermediar uma grande pactuação, um texto junto com o governo, mas organizado pela Câmara, para que a gente possa unir todos aqueles que estão governando, de partidos ligados ao governo ou não, pra que a gente possa avançar de forma definitiva nesse tema”. Ele mencionou os problemas financeiros vividos por estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte para defender uma postura “mais racional” dos políticos na discussão da Previdência e demais reformas.
Mercado confia no comando de Guedes
Paulo Guedes promete economizar R$ 1 trilhão com a reforma da previdência em dez anos, vender imóveis da União no valor de outro R$ 1 trilhão e arrecadar R$ 100 bilhões em privatizações neste ano. Esses números são tão reais quanto o jogo de críquete com bolas de ouriço da rainha de copas, mas estranhamente não geram espanto no mercado. Guido Mantega ou Nelson Barbosa eram escrutinados a cada vírgula mal posta, enquanto Guedes tem o benefício da dúvida mesmo quando fala bobagens. Por que isso? Por que o mercado conhece Guedes. Sabe que os superlativos borboleteiam as suas falas como se fossem cacoetes. Ninguém toma Guedes pelo valor de face, mas prestam atenção na direção do que ele fala. Ah, as privatizações não chegarão a R$ 100 bilhões neste ano? Não, mas o que importa é que elas vão ocorrer. Assim como a aprovação da reforma da previdência e a venda de ativos federais. A boa vontade do mercado com Guedes é de raiz e vai durar enquanto ele demonstrar ter o comando da economia.
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados