O mercado financeiro vive em um mundo paralelo nas últimas semanas. O Ibovespa bate recorde sobre recorde, não se importando com o efeito Flávio Bolsonaro, a ameaça de uma CPMF 2.0 sobre transações digitais ou a queda no saldo da balança comercial (que vai piorar se houver um acordo EUA/China).
É um otimismo arriscado. Neste ano, o mercado financeiro brasileiro preferiu ignorar o mau humor global com os efeitos da política antiambientalista e as ameaças veladas à democracia no governo apostando nos efeitos duradouros da reforma da previdência, da mudança da curva dívida/PIB e na vinda de novos investidores com a brutal queda nos juros. Por enquanto deu certo, mas um dia a tempestade chega.
Os juros estão baixos, a inflação está controlada, houve um bom sinal na geração de empregos e haverá carry positivo do PIB do último trimestre para 2020. As condições econômicas estão melhorando.
Mas o ambiente político estará pior. O caso Flávio Bolsonaro vai escalar para tentar chegar ao presidente. O racha do PSL vai fragilizar ainda mais a base governista e Congresso já conhece Bolsonaro, sabe como ele opera e perdeu o medo das ameaças via redes sociais. Um presidente fragilizado é o vudu favorito de um congressista.
O discurso da anticorrupção, um dos eixos da formação do bolsonarismo, pode afetar a popularidade de Bolsonaro, embora para isso seria necessário contar com uma inédita eficiência da oposição.
Bolsonaro é o próprio risco do governo Bolsonaro.
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