Há um certo espanto com a capacidade de o mercado financeiro separar Bolsonaro da agenda do ministro Paulo Guedes. O Ibovespa bateu em 108 mil pontos nesta semana, o dólar caiu e o risco pais está nas mínimas de seis anos. Os juros Selic estão no índice mais baixo da história e vão cair ainda mais. A inflação está sob controle, as reservas internacionais são absurdas e há um caminhão de privatizações pela frente. A Avenida Faria Lima ama Bolsonaro e Guedes. Enquanto houver reformas, haverá amor.
Mas, como todo amor, este precisa ser cuidado. É visível que o mercado não se importa se o presidente ameaça a mídia, interfere nas investigações contra sua família ou demonstra incompetência no controle do óleo derramado no litoral do Nordeste.
Mas algumas dúvidas permeiam mesmo um coração apaixonado: as reformas estão mais fáceis de serem aprovadas nesta semana do que na semana passada? A política de confronto político contínuo de Bolsonaro ajuda ou atrapalha o ambiente de negócios? O desvario na política externa terá efeitos nocivos?
As respostas variam, mas algumas conclusões são lógicas:
Depois de o filho presidencial ter defendido o fechamento do Congresso alguém realmente acha que haverá boa vontade com o pacote do ministro Paulo Guedes?
Quando Bolsonaro mostra que quer asfixiar seus adversários políticos, alguém acredita que esses mesmos adversários serão sensatos e irão ajudar o governo?
Há algum ingênuo na sala que considera que Bolsonaro realmente se converteu ao liberalismo e vai manter a Agenda Guedes se o país crescer menos de 2% no ano que vem?
Foto: Evaristo Sá/AFP