22 de novembro de 2024
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Ande pelos corredores verdes e azuis do Congresso, pergunte sobre o futuro da relação com Jair Bolsonaro e as respostas serão muito parecidas, venham do DEM, de petistas ou dos novatos do PSL. O presidente, dizem todos, considera o Congresso um adversário que tentará lhe tirar do poder na primeira oportunidade. Assim que for concluída a votação da reforma da previdência, dizem os parlamentares, Bolsonaro irá retomar os ataques à velha política usando a sua guerrilha digital para emparedar o Congresso. As concessões dos últimos dias, incluindo a recriação do Ministério das Cidades e as promessas de negociação das dívidas dos governadores, são apenas sinais de uma trégua.

Só o futuro pode confirmar essa previsão, mas o fato de ela estar se tornando consensual explica muito de como o Congresso trata o governo. No protesto do Primeiro de Maio, o deputado Paulinho da Força (do Solidariedade) cometeu um sincericídio ao defender uma reforma da previdência desidratada para impedir a reeleição de Bolsonaro. “Tenho atuado muito junto com os partidos de centro. Se fizermos uma reforma que dê R$ 1 trilhão em dez anos, significa que daríamos em três anos ao Bolsonaro R$ 330 bilhões. Ou seja, isso garante a reeleição dele. Esse é o discurso com muitos partidos que não têm interesse na eleição do Bolsonaro”, disse.

Na segunda-feira, 6, o jornal Valor conversou com o deputado Capitão Augusto Rosa (PR), coordenador da bancada da bala e bolsonarista de primeira hora, e pela primeira vez ouviu a palavra impeachment:

“De cada 10 deputados, oito reclamam e dois ficam quietinhos. Ninguém defende o governo”, afirma. Segundo ele, caso a situação econômica piore, existe um risco real de impeachment do presidente.

“O bombeiro fala que o ambiente está gasado (com gás), falta só a faísca para explodir. Ambiente gasado tem insatisfação política e insatisfação popular. A insatisfação política já está instalada, a olhos vistos”.

“Os partidos não quererem mais participar do governo não dá para reverter, só minimizar. Era algo normal compor o governo distribuindo cargos aos partidos. Como presidente da frente, eu queria ter indicado o secretário de segurança nacional. O interesse é escuso? Não, é a nossa bandeira. Se tenho um cara lá afinado comigo, é mais fácil articular. (…) O governo demonizou tanto que partido nenhum é louco de pegar ministério ou cargo. Vão falar que estavam na oposição porque não tinham cargos e chamar de prostituta, que se vende em troca de cargos. Quem é louco de aceitar isso? Com 100 dias, já se tornou irreversível”.

Essa desconfiança mutua explica parte da encrenca da agenda legislativa das próximas semanas. O governo tem sete medidas provisórias para serem aprovadas até 3 de junho. As principais são:

• MP 868, que altera o Marco Legal do Saneamento, medida fundamental para dar regras seguras para a capitalização ou privatização de empresas de saneamento, como a Sabesp, Copasa e Saneago. Na semana passada, a Comissão Especial aprovou o relatório do senador Tasso Jereissati e o tema corre mais pelo apoio dos governadores interessados do que pelo Planalto.

• MP 870, que altera a estrutura administrativa dos Ministérios. Na quarta-feira, 8, a Comissão Especial desta medida devolveu o COAF ao Ministério da economia e a Funai ao Ministério da Justiça, em duas derrotas para o ministro Sergio Moro, além de recriar o Ministério das Cidades.

• MP 871 – Facilita o cancelamento de pensões suspeitas de fraudes no INSS. Na quinta-feira, 9, a Comissão Especial aprovou o relatório do deputado Paulo Eduardo Martins. Uma das novidades do relatório é dar às prefeituras e não mais aos sindicatos rurais a exclusividade do cadastro dos trabalhadores do campo, área onde o Ministério da Economia suspeitar haver milhões de fraudes

Foto: Congresso Nacional Arquivo/Agência Brasil

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