A derrota anunciada de Maurício Macri nas eleições argentinas foi lida no Brasil como uma ofensa pessoal. Para os colunistas liberais, ignorando todo o sistema de pesos e contrapesos de uma democracia, Macri vai perder porque foi gradual nas suas reformas. Para os antipetistas raivosos, a prévia de domingo passado foi uma vitória do populismo bolivariano e blábláblá.
Falta um elemento nessa equação, o povo. Sob Macri, a vida dos mais pobres piorou. A inflação que oficialmente estava em 14,5% (embora provavelmente estivesse no dobro disso) foi para 55%. O desemprego (cujos índices também eram maquiados no governo Cristina Kirchner) saltou de 6% para 10%. Metade dos pensionistas passaram a receber menos de um salário mínimo depois da reforma da previdência.
É verdade que Macri assumiu um país perto do abismo, com estatísticas forjadas, preços administrados congelados artificialmente e em guerra com o mercado. Também é verdade que ele enfrentou esses pontos, mas o abismo veio do mesmo jeito. A Argentina está no seu segundo ano de recessão e sobrevivendo por um acordo de quase U$ 60 bilhões com o FMI (o organismo odiado por dez entre dez argentinos). No mês que vem, o FMI precisa renovar o acordo, coisa de R$ 20 bilhões que possivelmente terminarão usados para segurar o peso. A única diferença dessa crise com as anteriores é que dessa vez o sistema bancário local está mais sólido.
Mas a boa vontade de Macri com os mercados, a sua relação especial com Trump, o apoio à entrada da Argentina na OCDE e o acordo Mercosul-Europa não geraram empregos. No final do dia, os governantes são julgados se melhoraram a vida de seus eleitores. Isso vale na Argentina. Vale no Brasil.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil