Jair Bolsonaro completa nesta quarta-feira, dia 10, seus 100 primeiros dias de poder, classicamente chamados de lua-de-mel. Mesmo os mais fiéis bolsonaristas compreendem que a oportunidade foi desperdiçada. Bolsonaro perdeu popularidade, demonstrou absoluta inapetência gerencial na articulação política, na educação e na saúde, piorou a imagem do país no Exterior com uma diplomacia enviesada e não aprovou um único projeto no Congresso.
Com muita boa vontade, pode-se considerar que Bolsonaro está sob a curva de aprendizado. Nesta hipótese benigna os encontros com os presidentes de partidos políticos na quinta-feira seria um recuo pragmático do discurso inútil sobre “velha política”, o anúncio de um escritório avançado em Jerusalém corrigiria os exageros da possibilidade de uma mudança da sede da Embaixada do Brasil em Israel. Em um achado feliz do professor Rogério Furquim Werneck, em artigo em O Globo, Bolsonaro trocou a presidencialismo de coalização pelo presidencialismo de confrontação.
Deterioração rápida
Pesquisa telefônica da XP Ipespe divulgada hoje mostrou pelo segundo mês queda na aprovação do governo JB. O presidente que recebeu 46% dos votos no primeiro turno das eleições, agora é aprovado por 35%. Os que consideram o seu governo ruim ou péssimo cresceram de 17% em fevereiro para 26% em março.
O gráfico mais importante da pesquisa é sobre a expectativa. Em janeiro, 63% dos entrevistados esperam um governo ótimo ou bom e 15% apostavam num ruim ou péssimo. Em três meses, os otimistas caíram para 50% e os pessimistas subiram para 23%.
Quedas de popularidade em inícios de governo são comuns. O que espanta no caso de Bolsonaro é a velocidade da deterioração.
Confira o que pode afetar a popularidade de JB no curto prazo
Preço dos combustíveis: A Petrobras anunciou um reajuste de R$ 0,10 no preço do litro da gasolina nas refinarias, que passou de R$ 1,8326 para R$ 1,9354. Com o reajuste, a alta da gasolina nas refinarias da Petrobras é de 28,3% no acumulado do ano. Pesquisa feita pela Agência Nacional do Petróleo antes do último aumento revelou que o preço médio do litro de gasolina no país está em R$4,36, chegando a um máximo de R$5,90 no Rio de Janeiro.
Desemprego: Com uma série de atrasos no repasse de pagamentos de R$ 450 milhões devidos pelo governo federal, as construtoras do programa Minha Casa, Minha Vida ameaçam começar a demitir trabalhadores. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), podem ocorrer até 50 mil demissões em abril.
Mais Médicos: JB pressionou pelo fim do convênio com Cuba e o resultado foi desastroso. Das vagas 8.517 médicos cubanos somente 5.068 estavam ocupadas nesta semana, ou seja, por motivos ideológicos, a sociedade perdeu 40% do atendimento de um programa que funcionava.
Enem: O Inep (órgão do Ministério da Educação responsável pelo Enem) precisa concluir em maio as questões a tempo da impressão das 12 milhões de provas de novembro. Há duas semanas, o órgão está sem direção. A gráfica responsável abriu falência e há risco real de as provas terem de ser adiadas.
Remédios: O governo vai liberalizar os preços de medicamentos isentos de prescrição médica, retirando a necessidade de fixação de preço-teto para parte dos produtos que as pessoas podem comprar livremente em farmácias.
Salário Mínimo: O governo precisa enviar até o dia 15 o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020, com uma previsão do salário mínimo. A decisão do Ministério da Economia é indicar apenas a reposição da inflação, quebrando a lógica dos governos petistas de conceder aumento real. A decisão é fiscalmente compreensível, mas dará mais ânimo à oposição.
Reforma da Previdência: Nunca nenhum presidente em nenhum lugar do mundo saiu com a popularidade incólume de uma discussão sobre previdência. O governo parou de fazer campanha publicitária pró-reforma no Carnaval, mas eventualmente terá que assumir o projeto e receber os bônus e pagar os ônus.
Corrupção: Eventualmente, o Ministério Público do Rio irá retomar as investigações sobre Fabrício Queiroz e os esquemas de corrupção que podem envolver o senador eleito Flavio Bolsonaro. A investigação da Polícia Federal encontrou elementos de participação do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, no esquema de candidaturas de laranjas do PSL em Minas Gerais na eleição de 2018.
Paralisia da máquina: Nessa semana, Paulo Guedes anunciou o contingenciamento de R$ 36 bilhões do orçamento. Dados coletados pelo Poder360 mostram que nos primeiros três meses deste ano, o governo Bolsonaro fez R$ 5 bilhões em investimentos. A cifra é a menor desde 2006, em valores corrigidos pela inflação. O setor que mais teve recursos foi Defesa, com R$ 776 milhões. A educação teve o pior desempenho para um primeiro trimestre desde 2007.
Economia: Em dezembro, se falava em um crescimento de 3% neste ano. Caiu para 2,5% antes do carnaval e hoje várias casas já trabalham abaixo de 2%. Com a inoperância política e a demora da reforma, as possibilidades dessa tendência mudar é baixa.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agencia Brasil