O presidente Jair Bolsonaro está promovendo a mais forte guinada no seu governo. Em semanas, ele eliminou um amigo de longa data que o criticava cara a cara (o ex-ministro Santos Cruz), humilhou um subordinado de Paulo Guedes (o ex-presidente do BNDES Joaquim Levy), bancou a permanência no governo de Sergio Moro (o ex-herói nacional hoje dependente do bolsonarismo) e mudou a articulação com o Congresso. Aos ruralistas, Bolsonaro entregou a cabeça do general presidente da Funai que resistia a abrir terras indígenas para aluguel de plantio. Aos evangélicos, ele prometeu indicar um novo ministro do Supremo Tribunal Federal e foi o primeiro presidente a participar da Marcha com Jesus. É um Bolsonaro curtido por seis meses de confrontos na cadeira presidencial e que quer ficar no cargo até 2026.
“Meu muito obrigado a quem votou e a quem não votou em mim também. Lá na frente todos votarão, tenho certeza disso”, disse o presidente, em Brasília. Em São Paulo, indagado se pretende tentar a reeleição, disse: “Olha, se tiver uma boa reforma política eu posso até, nesse caldeirão, jogar fora a possibilidade de reeleição. Posso jogar fora isso aí. Agora, se não tiver uma boa reforma política e se o povo quiser, estamos aí para continuar mais quatro anos”.
Poder encorpado
Como a tal reforma política sugerida pelo presidente significa o corte de 100 vagas de deputados federais, é como se ele dissesse que só não sairá candidato se o sol não nascer. O deputado federal Marco Feliciano, pastor da Catedral do Avivamento, uma igreja neopentecostal ligada à Assembleia de Deus, aproveitou para se oferecer com opção de candidato a vice-presidente de Bolsonaro em 2022.
A antecipação da campanha da reeleição é um ponto de inflexão, como se o capitão houvesse ultrapassado um estágio onde encorpou o poder a ponto de considerar não depender mais do apoio de Paulo Guedes, Sergio Moro ou dos militares. Ao contrário, concluiu que eles devem a ele seus cargos e lealdades.
O que isso muda na forma de JB governar? Há dois pontos a considerar.
1. O primeiro é que o capitão precisa reforçar sempre que puder seus laços com o núcleo duro do bolsonarismo: evangélicos, ruralistas, olavistas, antipetistas radicais e defensores do endurecimento das regras de segurança pública.
2. O segundo é que nada que Bolsonaro diga ou prometa vai parar em pé se a economia não voltar a crescer. Passou a reforma da previdência, a pressão sobre Paulo Guedes será desumana.
Foto: Agencia Brasil