O labirinto onde a esquerda brasileira se meteu pode ser contado pela reação furiosa nas redes sociais contra o deputado federal Marcelo Freixo, do Psol do Rio. Primeiro político importante a denunciar o alastramento das milícias no Rio, Freixo foi o principal articulador para mudar o pacote anticrime do ministro Sergio Moro, eliminando barbaridades como a licença para policiais matarem (o famoso excludente de ilicitude), pontos ilegais como a prisão em segunda instância (que só pode decretada por mudança constitucional, não por projeto de lei) e coisas boas como o plea bargain (a facilitação dos acordos de colaboração).
Com apenas 9 deputados, o Psol não faz nenhuma diferença nas votações da Câmara. Mas graças a sua expertise sobre segurança pública, Freixo foi capaz de negociar a substituição de pontos com os partidos que realmente importam, PSL, PT, MDB e DEM. Na hora da votação, votou a favor do acordo.
Realpolitik
O nome disso é realpolitik. No parlamento, um deputado minoritário pode ou se isolar e votar sempre contra tudo e não influir em nada (como fez, por exemplo, Jair Bolsonaro nos vinte anos de Câmara Federal) ou articular para tornar os projetos ‘menos ruins’. Freixo tentou a segunda opção. Foi execrado. Virou a “nova Tábata”, em referência à deputada ameaçada de expulsão do PDT por ter votado a favor da reforma da previdência depois de articular mudanças que prejudicavam idosos miseráveis.
A pureza de princípios é o santo Graal dos radicais. É o pior da política.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil