16 de setembro de 2024
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Diz um ditado de Brasília, que o trono faz o rei. Ou seja, com um cargo importante, mesmo um personagem medíocre consegue ser ouvido com atenção.

A eleição de Jair Bolsonaro trouxe ao palco seus três filhos mais velhos, o senador eleito Flávio, o deputado federal mais votado do País, Eduardo, e o vereador e estrategista de mídia sociais, Carlos. Rapidamente o trio foi incensado como parte da genial estratégia que elegeu o pai. Carlos é temido pela mídia pelo seu humor irascível. Eduardo, com sua reverência ao trumpismo, passou a ser levado a sério como um ideólogo da diplomacia bolsonarista. Flávio seria um futuro presidente do Senado e o líder das propostas de endurecimento contra o crime.

Ilusão. Os três não passam de políticos sem originalidade que vivem à sombra do pai, ele mesmo um ex-capitão que passou vinte anos no Congresso defendendo interesses corporativos das Forças Armadas. Jair Bolsonaro é um fenômeno popular. Mas a sua vitória não empresta nobreza aos filhos.

Filho problema

Flávio Bolsonaro era um típico deputado estadual do Rio – o que não é um elogio. Sua área de votação eram favelas controladas pela milícia, gangues de ex-policiais militares que vendem proteção e envolvidos em esquadrões de extermínio. Homenageou dezenas deles com títulos de cidadania honorária e empregou parentes dos milicianos em seu gabinete. O principal assessor de Flávio, o ex-policial militar Fabrício Queiroz, era ligado aos milicianos. Há indícios razoáveis para supor que Flávio e Queiroz cobraram uma parte da renda dos demais servidores do gabinete, a chamada rachadinha. Há uma investigação inicial do Ministério Público do Rio sobre a participação de Flávio em um mensalão organizado pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, que negocia um acordo de delação premiada.

O problema de Flávio seria apenas o problema de Flávio não fosse a postura paternal de JB em sua declaração à TV Record:

“Nós não estamos acima da lei. Pelo contrário, estamos abaixo da lei. Agora, que se cumpra a lei: não façam de maneira diferente para conosco. Não é justo atingir um garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir”.

Entenda a falta de explicações de Flávio Bolsonaro

O garoto em questão tem 37 anos e não consegue explicar decisões prosaicas como:

(1) por que depositou 48 envelopes com R$ 2 mil cada em um caixa eletrônica ao invés de depositar o dinheiro total de uma vez só na agência? (possível resposta, porque os depósitos acima de R$10 mil precisam ser identificados. Flávio queria manter os depósitos sem identificação)

(2) por que ele preferiu receber parte do dinheiro da venda de um apartamento em dinheiro e não por depósito eletrônico (possível resposta: é uma manobra comum para sonegar a cobrança de imposto, registrando o imóvel por valor inferior ao efetivamente pago)

(3) porque o contrato da venda do apartamento diz que o dinheiro foi pago em março e os depósitos ocorreram em junho? Possível resposta: Ou o dinheiro foi entregue apenas em junho ou esse dinheiro não tinha relação com os negócios imobiliários do filho presidencial.

Ao trazer para seu colo a defesa do filho enrolado, o presidente destrói a sua credibilidade. Todo o discurso anticorrupção do governo virou pó com o Flaviogate. Uma iniciativa como as Dez Medidas Contra a Corrupção, que o ministro Sergio Moro pretendia enviar ao Congresso, será recebida com escárnio. Em um mundo ideal, Flávio se licenciaria do cargo e responderia longe de Brasília os processos em curso. Na vida real, será um zumbi ambulante lembrando a todos que os Bolsonaros são políticos como todos os demais.  

Foto: Reprodução Flickr

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