22 de novembro de 2024
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Há um fenômeno em curso nas redes sociais desde o final de julho, quando o presidente Bolsonaro anunciou que o seu filho Eduardo seria embaixador do Brasil em Washington. O volume dos debates sobre política arrefeceu e as críticas a Bolsonaro, sua família e seu governo se ampliaram. Ainda é cedo para afirmar que se trata de uma tendência firme, mas nesses 40 dias Bolsonaro está mais fraco nas redes.

A fissura na bolha começou com o incômodo dos bolsonaristas com o óbvio nepotismo da indicação de Eduardo, agravado pela declaração do presidente de que “se eu puder dar filé mignon para meu filho, vou dar sim. Pretendo beneficiar o meu filho, sim”. Nesta semana, perfis bolsonaristas radicais atacaram o senador Flávio Bolsonaro por atentar contra a CPI que pretende investigar ministros do STF. A família Bolsonaro está pagando o preço por anos de antipolítica. Depois de anos atacando agressivamente o PT por favorecimentos partidários, os bolsonaristas ficaram sem discurso.

Para os eleitores, essas últimas semanas foram desapontamentos em série. A liberação do FGTS ficou abaixo do que o próprio governo havia antecipado, o escolhido pelo presidente para a Procuradoria Geral da República tem relações civilizadas com o PT, a CPMF ameaçou voltar e, mais do que qualquer outra coisa, o presidente passou a humilhar o ministro Sergio Moro publicamente.

Reação

Aturdidos, os bolsonaristas estão reagindo de duas formas. Um grupo calou-se, desgostoso com o presidente, mas em silêncio para não dar munição para a oposição. Eles deixaram as tribunas livres do Facebook num retiro particular, mas poderão voltar às hostes bolsonaristas se o presidente retomar seu discurso contra a Velha Política e as elites do Supremo, da mídia e das universidades. São os desconfiados.

O outro grupo é o dos desiludidos. São eleitores que odeiam o PT, consideram os políticos um mal desnecessário e idolatram a Lava Jato e Sergio Moro. Bolsonaro foi o escolhido por eles, mas eles não são fiéis debaixo d’água. Se Sergio Moro deixar o governo, por exemplo, leva consigo toda essa turma.

Lava Toga

A CPI da Lava Toga, que pretende investigar os ministros do Supremo Tribunal Federal, é um dos cálices sagrados do bolsonarismo raiz. Em qualquer aglomeração de camisetas amarelas haverá um cartaz pedindo ou a investigação ou a simples prisão dos ministros do STF, todos acusados de acordos espúrios com o petismo, a liberação do aborto e das drogas e ações contra as igrejas evangélicas.

Na semana passada, senadores do PSL afirmaram terem sido procurados aos berros pelo senador Flavio Bolsonaro para retirarem seus nomes do pedido de CPI. Investigado por suposta corrupção quando era deputado estadual no Rio, o senador Flavio Bolsonaro só conseguiu parar as apurações por uma liminar concedida pelo presidente do STF, Dias Toffoli, um dos que certamente será admoestado se a CPI virar realidade.

Para muitos desses desiludidos, não há meio termo. Eles estão à direita de Bolsonaro e querem mais que discursos, ações efetivas contra o Supremo, a mídia e os políticos em geral.

Recusa aos demais candidatos

É fundamental observar que nenhum outro personagem ganhou com essa fragilidade momentânea do bolsonarismo. Tanto desconfiados como desiludidos, podem até abandonar Bolsonaro mais à frente, mas – novamente com a exceção de Sergio Moro – recusam todos os demais candidatos postos.

O bolsonarismo começou a ganhar tamanho nas redes no primeiro trimestre de 2018 e se tornou maioria no segundo turno. Desde então, com raras exceções, como no domingo da censura na Bienal do Livro no Rio, o debate nas redes segue sendo sobre Bolsonaro, o que ele faz, o que ele acha, o que ele diz. Assim como Lula em outros tempos, o presidente é hoje o fator de divisão das redes e de multiplicação de posts, tuítes e memes.

Será interessante observar como o presidente pretende recuperar esses eleitores, uma vez que não irá recuar na indicação de Eduardo para embaixada, nem da operação de blindagem de Flavio.

Foto: Sergio Lima / AFP

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