23 de novembro de 2024
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Relatório do órgão responsável pelo combate à lavagem de dinheiro (Coaf) identificou depósitos de 48 parcelas de R$ 2 mil no intervalo de um mês na conta do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro, segundo filho do presidente. Os depósitos sem identificação e em dinheiro vivo foram feitos entre junho e julho de 2017 e reforçam a suspeita de que os funcionários do gabinete de Flávio devolviam ao político parte dos seus salários, esquema de corrupção chamado de “rachadinha”. As informações foram divulgadas na noite de ontem pelo Jornal Nacional.

O relatório foi pedido pelos procuradores do Rio, que investigam movimentações bancárias de todos os assessores dos deputados estaduais fluminenses entre 2016 e janeiro de 2017. Nas investigações, foi descoberto que o principal assessor à época de Flávio, o ex-subtenente da Polícia Militar Fabrício Queiroz, movimentou R$1,2 milhão em um ano. Ainda não foram investigadas as contas a partir de janeiro de 2017.

Pedido desesperado ao STF

A revelação reforça as suspeitas sobre Flávio, que já havia dado indicações de desespero nesta semana ao recorrer ao Supremo Tribunal Federal para anular as investigações. De todos os ângulos que se olhe, o recurso ao STF foi um grave erro. Primeiro porque a liminar concedida pelo ministro Luiz Fux suspendo as investigações será derrubada em menos de dez dias, quando termina o recesso do Judiciário. “Tenho negado seguimento a reclamações assim, remetendo ao lixo”, afirmou o ministro do STF Marco Aurélio à Globonews. Marco Aurélio também vai negar outro pedido da defesa, o de total anulação do processo.

Os argumentos dos advogados de Flávio Bolsonaro são insustentáveis. Segundo eles, o Coaf teria pedido acesso a dados de Flávio depois da sua diplomação como senador, quando (a) o Coaf nega ter até o momento investigado as contas bancárias do senador e (b) os fatos investigados são sobre a movimentação de assessores em 2016 e 2017, quando o filho de Bolsonaro era deputado estadual.

Nas mãos de Dodge, investigação pode ser ampliada

Segundo: o recurso trouxe o processo para ser avaliado pela procuradora geral Raquel Dodge. Ao contrário dos procuradores do Rio, complacentes com a falta de explicação de Queiroz e seus familiares, Dodge é dura. A partir do acesso que terá do processo, Raquel Dodge poderá ampliar as investigações e, aí sim, incluir a família Bolsonaro. Isso seria quase impossível se o processo se mantivesse no Rio. Além de Flávio, sabe-se que Queiroz fez movimentações com as contas do presidente Bolsonaro e da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Indicada para o cargo por Michel Temer, Dodge tem mandato até setembro.

A falta de uma comunicação profissional. O problema não é o excesso de tuítes presidenciais. O problema é o vazio de informação oficial na hora da divergência. Na semana passada, o presidente anunciou um novo imposto às 11h e foi desmentido pelo secretário da Receita às 15h30. Somente às 18h, o Planalto informou que o presidente estava errado. Na quarta-feira à noite, o ministro das Relações Exteriores anunciou a demissão do presidente da Apex, que se recusou a aceitar a ordem. Somente na quinta-feira à noite a demissão foi confirmada. Sem entrar no mérito das duas situações, esse vácuo da informação oficial é amadorismo

Last but not least: a ação sugere que o envolvimento de Flávio é maior do que se conhece e que a medida extrema de tentar anular as provas coletadas seria a única saída. É impossível que uma investigação de corrupção contra um dos filhos do presidente não afete o próprio presidente.

Na sua conta no Instagram (sim, o general tem conta no Instagram), o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, escreveu:

“No que diz respeito ao Queiroz: para mim, não tem impacto. O presidente Bolsonaro não vê isso como um assunto de governo, é um assunto do Flávio”.  

É fácil ler a frase e imaginar um navio com um corpo sendo jogado ao mar…

Foto: Luis Gustavo/ALERJ

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