A equipe de comunicação do presidente é tosca. A esfuziante vitória eleitoral baseada no medo sincero de um Dilma 3 com a volta do PT, no uso intensivo da desinformação nas redes sociais, na promessa de poder a Paulo Guedes e no drama do atentado ao candidato, escondeu o amadorismo do time de comunicação para o poder. Desde a campanha era notável a acidez com que JB era tratado pelos principais veículos internacionais. À época, a resposta da equipe era algo como “quanto votos tem a Economist?”, em um misto de sincero desprezo pela imprensa tradicional e completa ignorância de como as coisas funcionam. É verdade: a Economist, o New York Times e o Wall Street Journal não tem meia dúzia de votos no Brasil, mas tem o respeito de quem tem o poder de decidir sobre o Brasil.
É preciso algum incentivo para aplaudir um presidente com a imagem de misógino, homofóbico, racista, pró-destruição da natureza e defensor da ditadura militar. It’s bad for business. Ou o presidente modera o discurso (alternativa que hoje parece fora da mesa) ou ele arranja argumentos para ser aceito no clube apesar de tudo o que já disse. O único argumento que JB tem chama-se Paulo Guedes e as reformas econômicas.
Discurso curto no Fórum Econômico Mundial
Davos era a oportunidade de ouro para JB começar a mudar a sua imagem externa. Ele fez o sacrifício de adiar sua cirurgia, levou Paulo Guedes e Sergio Moro na comitiva e obteve 45 minutos para falar na abertura do Fórum. Deu tudo errado.
Visivelmente nervoso, JB foi pior que Dilma Rousseff e Michel Temer em situações similares. Falou por seis minutos sem ser vigoroso na defesa das reformas e perdeu tempo com os “verdadeiros direitos humanos” e os ideologismos do chanceler Ernesto Araújo. Criticado unanimemente, resolveu faltar à entrevista coletiva, como um garoto mimado. “O cancelamento da entrevista comprovou suas más condições para o exercício de uma função física e psicologicamente exigente como a que acaba de assumir”, afirmou o editorial do Estadão, que não pode ser acusado de antigovernista.
Presidente vai mal nas entrevistas em Davos
O irônico é que JB deu duas entrevistas duras em Davos. Para a Bloomberg, defendeu uma “reforma substancial”, afirmou que os militares estarão incluídos numa “segunda parte da reforma”, anunciou a venda de aeroportos e portos e que “por ora” pretende manter o país no Acordo de Paris. Ao Washington Post, numa entrevista dura, Bolsonaro disse que a proposta da reforma será “impopular”, mas que o Brasil “não tem alternativa” à reforma. Em nenhuma oportunidade, JB adiantou trecho da proposta que aumentaria a confianças dos investidores.
Nas duas entrevistas, JB escorregou em todas as cascas de banana soltas na calçada. À Bloomberg, maior site de notícias de finanças do mundo, JB voltou a insistir na sua postura no episódio inexistente do kit gay, atacou a ideologia de gênero, prometeu vetar uma eventual lei pró-aborto mesmo se aprovada pelo Congresso e disse que seu filho Flávio só estava sendo investigado por ser um Bolsonaro.
Ao Washington Post, ícone liberal abertamente anti-Trump, defendeu o regime militar, atacou a mídia brasileira, disse que todas suas declarações polêmicas eram “brincadeira” e perguntado sobre os laços de Flávio Bolsonaro com a milícia respondeu que “não eram da conta” da jornalista (por acaso filha da publisher Katharine Graham).
Uma catástrofe de relações públicas.
Foto: Alan Santos/Presidência da República