Vivemos um tempo de medo. Sabemos que o mundo, o Brasil, você e eu enfrentaremos em breve tempos muito difíceis. Estamos todos parados esperando um tsunami chegar. Vai muito ruim em abril, mas maio será pior, e junho e julho metem ainda mais medo.
Há uma sensação natural de impotência porque essa crise é diferente de todas as anteriores e apenas repetir as receitas passadas não vai adiantar. Neste período de desorientação, é difícil diferenciar o que é importante e o que é pânico? O que é intriga política e o que debate sério? Ao paralisar tudo, a crise congelou a relação do consumidor com sua marca e será preciso uma sintonia fina para fazer a reconexão. Como estará o seu emprego e a sua empresa quando essa crise passar?
A partir desta quarta (1/4) e toda quarta-feira, vou publicar exclusivamente no LinkedIn uma série de ideias para discutirmos juntos como se preparar para quando essa crise acabar. Não vendo poções mágicas, nem soluções fáceis, mas creio que posso colaborar nas minhas áreas, risco político, construção de reputação corporativa e gerenciamento de crise.
Neste primeiro capítulo, vamos falar sobre a necessidade de análise de risco político
A maioria dos empresários tem ojeriza de política e isso é compreensível. Mas em nenhum outro país é tão importante compreender os meandros da política como no Brasil. Porque no mundo todo estamos enfrentando uma crise de três eixos, saúde pública, recessão econômica e abastecimento. No Brasil, o monstro tem uma quarta cabeça, a do confronto político.
Análise de risco não é defender ou atacar o governo, mas entender quais são as forças que atuam para que o Executivo tome a decisão A ou B, a reação no Congresso e no Supremo, e como o frágil equilíbrio das forças políticas ora pende para um lado, ora para outro. Entender isso muda o seu negócio.
Eu rejeito análise por torcida. A questão não é gostar de Fulano ou de Beltrano, mas de compreender qual a agenda de cada um e como cada protagonista pretende implantar sua agenda. Um exemplo de hoje: o conflito entre o Palácio do Planalto, os governadores e o Congresso se tornou o principal problema da saúde pública. Enquanto essa desorganização persistir, o dinheiro que deveria ser liberado não vai chegar no bolso dos desempregados, as empresas não terão crédito para pagar a folha de pessoal, os hospitais não terão novos leitos e faltará kits de testes para diagnosticar o coronavírus. A empresa que tem uma análise política séria _ sem torcida_ já estava preparada para esse bate-cabeça desde o início. Quem acha que política é bancada de estádio perdeu tempo e dinheiro.
O clima político brasileiro é tão ruim que o conflito entre o Planalto e os governadores vai prosseguir até que o número de mortos assuste a sociedade e ela exija uma postura menos belicosa das autoridades. Sabendo que teremos semanas ainda de bate-cabeça, o que a sua empresa pode fazer para reduzir os danos para o seu negócio? Saber fazer o diagnóstico e as perguntas certas pode ser a diferença entre sobreviver ou não a pandemia.
Análise política é fundamental para apoiar as estratégias de longo prazo, montar cenários sobre que tipo de Brasil teremos em dois, três ou cinco anos, mas também para situações de emergência. A conformação do Congresso muda a cada quinzena, as proximidade das eleições transforma adversários em aliados, o barulho das redes sociais se transforma em atitudes, a instabilidade afasta investimento, o conflito assusta o consumidor e tudo isso altera o seu ambiente de negócios.
Foto: ffikretow/Getty Images