O governo Bolsonaro conseguiu tirar uma derrota das mandíbulas da vitória, para contrariar a expressão em inglês. O apoio americano à entrada do Brasil na OCDE previa desde o início que isso não seria para já. Mas a pressa bolsonarista, aliada com a incapacidade de aceitar a realidade, fez com que o anúncio americano de apoio à entrada imediata da Argentina na organização virasse uma derrota. Se Bolsonaro tivesse sido sincero desde o início, não haveria desapontamento agora.
Em maio, durante a conferência anual de ministros dos países-membros, o diretor-geral da OCDE, Ángel Gurría, montou um plano de entrada gradual, com Argentina e Romênia à frente, depois o Brasil e o Peru, finalmente Croácia e Bulgária — todos os atuais candidatos. O governo Trump, que não tem verdadeiras simpatias pela OCDE, também estava na mesma linha. Em 28 de agosto, o secretário de Estado americano, Mike Pompeu, enviou carta à OCDE defendendo apenas duas vagas por “preferir expansão em ritmo cadenciado”.
Amadorismo
O governo Bolsonaro sabia de tudo isso. Nesta sexta, 11, o ministro Paulo Guedes reconheceu. “Falhamos em não contar a história toda? Sim. Teria sido melhor a gente ter dito: ‘Olha, tem uma fila’. Os Estados Unidos disseram que iam nos apoiar, mas não junto com a Argentina”.
Então se era óbvio que não haveria um apoio americano ao final porque o governo insistiu em vender essa versão em março? Amadorismo. Bolsonaro tem uma comunicação à base de feeling, improviso e a força bruta das redes sociais. Qualquer munição que possa ser usada contra o opositor da vez (que pode ser o PT, a mídia, as ONGs ou Dória) será detonada sem pensar nas consequências. E sobra demais aos adultos da sala – posição que pode ser do vice Hamilton Mourão, outras vezes do ministro Guedes – tentar consertar as coisas.
Entre 2008 e 2011, o Brasil foi convidado repetidas vezes para entrar na OCDE, mas a prioridade à época era se aproximar dos BRICS (chegou-se a pensar em montar um escritório de estatísticas competidor da OCDE para os países emergentes). Em 2016, Henrique Meirelles começou a trabalhar a candidatura brasileira que hoje tem meio caminho andado. Dos 248 procedimentos e normas da OCDE, o País já cumpre integralmente 72 e parcialmente 135. Se o Brasil vai entrar em 2020 ou 2021 ou 2022 não faz a menor diferença.
Foto: Alan Santos/PR