Em condições normais de temperatura e pressão, a reforma eleitoral aprovada pela Câmara dos Deputados seria o maior escândalo do ano. Os deputados aprovaram um texto que ressuscita os comerciais partidários fora dos anos eleitorais, diminuem o controle sobre o uso das verbas públicas pelas legendas, permite o uso de dinheiro público para pagamento de multas eleitorais, advogados, compra de imóveis e campanha via Facebook. O Congresso não determinou o valor do fundo eleitoral, mas é provável que ele ultrapasse os R$ 2,7 bilhões.
O texto aprovado permite que no primeiro semestre do ano que vem os partidos levem ao ar no rádio e na TV 19.040 comerciais de 30 segundos, como revelou o site Poder360. Numa comparação grosseira, é mais do que a soma das publicidades do Bradesco e do Itaú.
Deve-se ao prestígio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o fato dessa farra dos partidos não ter virado um escândalo. Ao se tornar o contraponto a Bolsonaro junto ao empresariado e à mídia, Rodrigo Maia conseguiu uma espécie de salvo conduto, que lhe permite cometer pecados sem punição, como se alimentar a fome dos políticos fosse um preço a se pagar para ter na Câmara alguém que toque as reformas econômicas.
Essa viseira já foi usada por empresários e jornalistas quando Eduardo Cunha enfrentava Dilma Rousseff, com resultados conhecidos.
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados