22 de novembro de 2024
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No auge das desavenças entre o então ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, e o escritor Olavo de Carvalho, o presidente Jair Bolsonaro recebeu a cópia de uma troca de mensagens que teria ocorrido no dia 6 de maio entre Santos Cruz e uma pessoa não-identificada. O diálogo se deu assim:

– General, como foi lá ontem, resolveu?

– Nada. Ele ficou insistindo no vídeo.

– Tendi

– Mas eu disse na cara dele que isso era coisa do desequilibrado do filho dele (Carlos Bolsonaro) e do frouxo do Fabio (Wajngarten, chefe da secretaria de comunicação).

– E q ele falou?

– Que isso não iria se repetir. Mas eu não senti firmeza. Ele deve ter dado ok por trás.

– Ele é covarde. Terceiriza ataque, idiota.

– Sim.

Bolsonaro ficou furioso e queria demitir o ministro na hora. Por intervenção direta de outro general ministro Augusto Heleno que contra a vontade do presidente o fez receber Santos Cruz. O diálogo foi ruim. Santos Cruz negou a conversa, mas Bolsonaro não acreditou. Apenas esperou a melhor oportunidade para se vingar.

Em Brasília não existem superministros. O poder é concedido e retirado pela caneta do presidente. Do general Frota no governo Geisel ao general Santos Cruz agora, nenhum ministro conseguiu domar o presidente. Isso não significa que ministros não sejam poderosos. Golbery do Couto e Silva, Delfim Netto, Marcílio Marques Moreira, FHC e Antonio Palocci foram muito poderosos, mas em parte porque sabiam como não ultrapassar a linha divisória da liturgia presidencial.

Santos Cruz ultrapassou essa linha em dois momentos. O primeiro foi quando enfrentou Carlos Bolsonaro e suspendeu os planos de uso da publicidade oficial para sustentar veículos de mídia amigos e punir inimigos (especialmente a TV Globo).

O mais grave, no entanto, foi a postura considerada dúbia por Bolsonaro sobre o vice Hamilton Mourão. O presidente acredita que Mourão sonha com sua cadeira e incentivou os ataques de Carlos e Olavo ao vice. A postura firme de Santos Cruz a favor de Mourão assinou a sua queda.

As missões do novo ministro

O novo ministro, general Luiz Eduardo Ramos, entra com duas missões. A primeira é não atrapalhar os planos de Carlos Bolsonaro, a serem executados pelo secretario Fabio Wajngarten.

O segundo é coordenar as nomeações. Uma das novidades deste governo foi a centralização na Secretaria de Governo o aval a todas as nomeações para cargos minimamente relevantes, com exceção dos ministros (cargos de natureza especial, como secretários-executivos, cargos DAS níveis 3, 4 (exceto assessores), 5 e 6 (inclusive assessores), reitores de universidades federais e embaixadores). O decreto é uma gigantesca centralização de comando no Palácio do Planalto, retirando poderes históricos do Ministério da Educação (no caso dos reitores) e do Itamaraty (embaixadores).

A nomeação do general Ramos derruba o último vestígio de neutralidade do Exército, que tentava vender a ideia que apenas seus oficiais de reserva estavam no governo. Comandante Militar do Sudeste, Ramos é general quatro estrelas e membro do Alto Comando do Exército.

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

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