Lançado no final do ano, The Economists’ Hour – False prophets, Free Markets, and the Fracture of Society é um dos melhores guias já publicados sobre a influência dos economistas sobre políticas públicas. O livro do editorialista do The New York Times Binyamin Appelbaum tem de tudo. Conta como Milton Friedman convenceu o candidato Richard Nixon a defender (e, depois como presidente, decretar) a substituição do serviço militar obrigatório pelo alistamento voluntário e profissional nas Forças Armadas. Até o fim da vida, Friedman considerou este um dos seus feitos mais duradouros.
Tem anedotas: dois líderes assistem um desfile militar. Depois da exibição das tropas, dos mísseis e dos tanques, aparece um vagão com um grupo de civis mal vestidos. “Quem são?”, pergunta o primeiro. O segundo responde, “Economistas. Você não tem ideia do estragos que eles são capazes!”. Ou de como Keynes e Friedman só tiveram um contato, quando o primeiro recusou publicar um artigo do segundo. Nunca foi perdoado.
O livro é a saga de um herói (Friedman), um evangelho (o monetarismo e a defesa da redução do tamanho do Estado) e como essa ideia se tornou majoritária nos Estados Unidos a partir dos anos 80. O livro vai do fim do padrão-ouro, passando pela desregulação do Reaganomics, as manobras dos economistas republicanos para juntar reduções de impostos e explosão do déficit na mesma frase, a formação do consenso nos governos Clinton e, lógico, o crack de 2008. Imperdível.
Vencedores do Nobel de Economia de 2019, Esther Duflo e Abhijit Banerjee são especialistas nos monitoramentos de campo sobre a efetividade de políticas públicas no combate à pobrezas (os RCTs, Randomized Controlled Trials). Em Good Economics for Hard Times, o casal avança para além das medições sobre incentivos à vacinação infantil e frequência escolar para estudar o que eles batizam de “transições”. São os casos dos migrantes ou dos desempregados desalentados, pessoas forçadas à se adaptar em circunstâncias novas e degradantes. São os deserdados dos 2010. “Os ricos e poderosos se adaptam ao sucesso econômico, mas, com muita frequência, o resto não acompanha. Este é o mundo que produziu Donald Trump, Jair Bolsonaro e Brexit”, escrevem.
“O objetivo das políticas sociais é ajudar as pessoas a absolver os choques econômicos sem que elas percam o senso de dignidade”, defendem. Parece ingênuo, mas sobre cada tema, o livro apresenta testes com pessoas reais e experiências de políticas públicas comprovadas. É uma defesa dos mecanismos de inclusão e geração de oportunidade. Senão por empatia, ao menos por eficiência econômica.
Professor de Princeton, ex-conselheiro econômico de Bill Clinton e ex-diretor do Fed sob Allan Greenspan, Alan S. Blinder escreveu Advice and Dissent, Why America Suffers When Economist and Politics Colide sobre a complexa convivência dos políticos e dos economistas antes da posse de Donald Trump. O livro só se mostrou mais correto desde então. Com a sua experiência no centro do poder, Blinder tenta explicar aos economistas alguns princípios básicos da política. O primeiro é o política nunca vai esquecer quem o colocou onde está _ seja seu eleitor, seu financiar ou seu padrinho político. É perda de tempo supor que o melhor modelo econômica fará alguém votar com ingratidão, ensina Blinder. Os políticos têm visão míope (ou seja, enxergam o que está distante), enquanto a economistas sofrem de hipermetropia (enxergam mal o curto prazo), compara. Defensor do livre comércio, Blinder reconta como economistas democratas se juntaram ao governo Reagan para aprovar corte de tarifas em um cálculo que juntou visões de curto e longo-prazo. “Políticos usam os economistas como os bêbados como postes, mais para apoiar do que para iluminar”, ironiza Blinder, “mas ao final do dia quem precisa prestar contas à sociedade são os eleitos, não os economistas”.
Narrative Economics - How Stories Go Viral & Drive Major Economic Events é um livro didático sobre a força da propagação das ideias econômicas. Prêmio Nobel de Economia de 2013, Robert Shiller retira a economia dos modelos acadêmicos e joga-la para seus resultados na vida das pessoas. Seu livro explica o peso do pânico sobre a saúde financeira dos bancos no crack de 1929, a construção do consenso do padrão ouro (e seu abando nos 70), as idas-e-vindas sobre o incentivo ao consumo vrs austeridade, preservação de empregos vrs benefícios da automação e a criação do mito do bitcoin, a partir do mito fundador do enigmático Satoshi Sakamoto e a criação de uma comunidade exclusiva de investidores à parte do cotidiano dos demais. Bom livro para entender o papel da comunicação para governos e companhias.
The Narrow Corridor: States, Societies and the Fate of Liberty é a defesa de uma tese, a liberdade tanto individual quanto econômica está no meio de um corredor um Estado Opressor (ou o Leviatan, do britânico Thomas Hobbes) e sua total ausência, que empurra a sociedade para a anarquia insustentável. Autores do memorável “Por que as Nações Fracassam”, Daron Acemoglu e James A Robinson, defendem o caminho do meio.
Capitalism in America é uma ode ao excepcionalismo americano e à criatividade destrutiva que acabou com 109 mil fábricas de carruagens e carroças em funcionamento em 1900 para criar o maior parque industrial da história. Os autores, o ex-presidente do Fed Alan Greenspan e o jornalista Adrian Wooldridge, promovem uma boa introdução sobre a evolução da hegemonia econômica americana. O livro falha onde deveria ser mais agudo, o crack de 2008. Protagonista da crise, Greenspan gasta páginas para defender a ação do Fed diante a exuberância irracional dos mercados, mas tenta assegurar seu lugar no grupo dos que ajudaram a economia a não naufragar no prosseguimento da crise. Ao final, vale ler a defesa de Greenspan sobre a necessidade de os bancos terem 30% de seu patrimônio em equity (ao quebrar, o Lehman tinha bens tangíveis de 3% do seu patrimônio).