23 de novembro de 2024
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A nova fase da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva envolvendo os milionários lucros do seu filho Fabio Luiz produziram mais luz do que calor. É público desde 2006 que Fabio Luiz, um biólogo com experiência como monitor no zoológico de São Paulo, havia se tornado milionário com negócios com concessionárias de telefonia, especialmente a Oi. A PF nunca se aprofundou no caso.

Em 2015, quando a Lava Jato passou a investigar as empreiteiras, o Ministério Público fechou acordo de delação premiada com executivos da Andrade Gutierrez (ex-controladores da telefônica Oi) sem perguntar sobre Fabio Luiz. Na delação do ex-ministro Antonio Palocci, as citações aos negócios de Fabio Luiz são de conhecimento público.

Agora que o ex-presidente está solto, parece haver uma pressa desmedida em usar as suspeitas sobre Fabio Luiz para dar mais volume ao processo contra Lula no caso do sítio em Atibaia. Aqui cabe um parêntese: o processo de Atibaia é, de longe, o mais robusto contra Lula. Há provas e depoimentos de que o sítio foi reformado com dinheiro e pessoal da Odebrecht e da OAS como um favor a Lula – embora não esteja provada a relação de toma-lá-dá-cá da gentileza. O sítio formalmente pertence a Jonas Suassuna, amigo e ex-sócio de Fabio Luiz em meia dúzia de empresas, incluindo as que se associaram à Oi. O que a PF quer com essa nova investigação é tentar provar que Suassuna foi um laranja, que comprou o sítio para encobrir ganhos que teve por ser sócio do filho do presidente.

Gamecorp

De acordo com as investigações preliminares da PF, as empresas de Fabio Luiz, Suassuna e Fernando Bittar teriam recebido, ao logo de doze anos, R$ 132 milhões da Oi e R$ 40 milhões da Vivo por um projeto de áudios de versículos da Bíblia lidos pelo locutor Cid Moreira.

Qual é o busílis? O processo de Atibaia será, fatalmente, devolvido para a primeira instância por um erro do ex-juiz Sergio Moro, que não ouviu a defesa de Lula depois de receber depoimentos de outros réus delatores. Essa é uma decisão do Supremo Tribunal Federal que os juízes dos tribunais de segunda instância de Porto Alegre podem achar errada, mas será cumprida. Para o processo voltar à primeira fase em Curitiba, ser julgado e voltar para os recursos em Porto Alegre vai demorar, no mínimo, um ano. Se forem incluídas novas acusações – como a de lavagem de dinheiro através dos negócios de Fabio Luiz e Jonas Suassuna – estamos falando de quase dois anos, com Lula já aos 76 anos e ainda com a questão da prisão após segunda instância sob judice.

Fabio Luiz, Suassuna e Bittar formaram sociedade em 2003 – no primeiro ano do governo Lula – em uma empresa de entretenimento chamada Gamecorp. Um ano depois, o investidor Daniel Dantas – que tinha sérios problemas de relacionamento com o PT – procurou o grupo para uma sociedade. Ao saber disso, um dos dirigentes do PT mais próximos de Lula, o ministro Luiz Gushiken, forçou a Previ a impedir o acordo. Em 2005, a companhia telefônica Oi – com a Previ no seu conselho – pagou quase R$ 11 milhões (em valores de hoje) para se associar à Gamecorp. A empresa de Fábio Luiz pretendia produzir programas interativos na TV nos quais jogadores de games poderiam disputar partidas ao vivo. Programas assim são sucesso em canais do Youtube. Os da Gamecorp nunca saíram do traço de audiência na TV Bandeirantes. Isso não impediu a companhia de investir, pelo menos, outros R$ 100 milhões em projetos do trio nos dez anos seguintes.

Foto: Sérgio Lima/Folha Imagem

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