O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu reiteradamente nesses últimos dias o seu maior erro desde não ter assumido a candidatura a presidente em maio de 2014. Em reunião do PT em Salvador, Lula disse:

“Se você tem críticas pra fazer ao PT, faça. Mas se eu ficar toda hora fazendo autocrítica, aí nem precisamos de oposição. Eles sabem dos nossos erros, mas também sabem que fomos quem mais fez pelo Brasil”.

Depois em comício no Recife, Lula voltou ao tema: “Vocês já viram alguém pedir para FHC fazer autocrítica? […] Quem quiser que o PT faça autocrítica, que faça a crítica você. Quem é oposição que critica, ela existe para isso […] Na dúvida, a gente defende o nosso companheiro”.

O argumento do ex-presidente não se sustenta. O PSDB, de fato, nunca fez autocrítica pelo estelionato eleitoral de 1998 e não expulsou Aécio Neves. Mas olhe as consequências: nunca mais ganhou eleição.

Nova Matriz Econômica

O segundo sofisma petista é contra-atacar jogando no colo dos governos Temer e Bolsonaro o descalabro econômico desde 2015. “Nossa direita deve fazer autocrítica por ter sabotado o governo Dilma e aumentado a recessão em 2015, por ter apoiado a ruptura institucional e piorado ainda mais a economia em 2016, por defender a destruição desnecessária de empresas e empregos em nome do combate à corrupção”, escreveu o ex-ministro Nelson Barbosa, na Folha de S. Paulo, esquecendo das desventuras em série da Nova Matriz Econômica.

Autocríticas servem para dizer ao eleitor ‘da próxima vez será diferente’. Certos ou não, o Partido Trabalhista britânico fez a sua autocrítica dos anos Tony Blair, assim como os democratas americanos parecem arrependidos de vários pontos do moderado governo Obama. No caso brasileiro, o PT tem todo o direito de seguir em frente e recontar a história como lhe convir. Mas vai assim permitir para sempre que eleitores comuns considerem que a volta do partido ao poder será também a da Nova Matriz Econômica e da Lava Jato.

Foto: Nacho Doce/Reuters