22 de novembro de 2024
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Desde o princípio da Lava Jato, Sergio Moro sabia que se tratava de uma disputa pela opinião pública. No seu agora clássico artigo sobre as lições da Operação Mãos Limpas, Moro citava a parceria dos investigadores com a imprensa como uma das forças que blindaram juízes, promotores e policiais das pressões políticas. “O apoio da opinião pública nos primeiros anos foi avassalador, identificando como verdadeiros heróis os magistrados mais diretamente encarregados dos processos”, escreveu Moro sobre o que se passou na Itália nos anos 90, mas que poderia ser sobre o Brasil dos últimos anos. Por anos, a mídia tratou Moro e seus promotores como deuses infalíveis (alguns ainda os tratam assim).

Ironicamente, Moro também compreendeu que, com o tempo, a opinião pública italiana perdeu o seu entusiasmo, cansada por um misto de messianismo dos investigadores, contra-ataque dos políticos e a percepção no dia-a-dia de que a corrupção é um dos problemas da sociedade, nem de longe o único. E mesmo sabendo do fim melancólico dos colegas italianos, Moro cometeu todos os erros possíveis para perder a narrativa da luta anticorrupção.

Na sexta-feira, 4, a revista Veja publicou uma entrevista exclusiva do Moro. O ministro disse coisas inconsistentes. Por coincidência enquanto a revista chegava às bancas o seu colega do Turismo, Álvaro Antônio, era indiciado por fraude eleitoral. Mesmo assim, foi mantido no cargo por Bolsonaro e Moro não fez sequer uma declaração formal.

Foto: Lula Marques


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