Quando pressionado ao extremo, o capitão Jair Bolsonaro tem uma resposta simples para questões complicadas, chamar um general. Ao deslocar para o Exército a função de controlar as queimadas na Amazônia, o presidente usa da credibilidade da Força para atenuar o antiambientalismo que faz parte do espírito do seu governo. Bolsonaro foi inteligente ao aproveitar o subtexto de internacionalização da Amazônia do presidente francês Emmanuel Macron para incorporar ao seu discurso a defesa da soberania nacional, tese cara aos militares. Mas a missão dos 4 mil soldados no combate ao fogo é mais complicada do que parece a princípio.
Em termos ecológicos, o bioma da Amazônia não tem um ciclo de fogo, como o Cerrado, por exemplo. Por isso, a emissão de gás carbônico em uma queimada na floresta é tão superior ao de outros incêndios, o que torna ridícula as comparações entre o que está acontecendo no Brasil e as savanas africanas. Mas mesmo assim fogo é um elemento constante da agricultura de alguns estados, notadamente Rondônia, Mato Grosso e Pará. Entre agosto e outubro, agricultores usam fogo para renovar pastos e isso, feito com autorização, é legal e tem baixo impacto ambiental (logicamente não estamos falando de incêndios florestais). Só que ao decretar a proibição de fogo na região por dois meses, Bolsonaro ignorou isso. Ele está colocando tropas para um conflito direto com ruralistas. Não será algo trivial.
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil