Primeiro foi o anúncio da demissão do presidente Coaf, o órgão fiscalizador de operações financeiras atípicas. Mas a solução foi tão engenhosa, transferir o Coaf para a estrutura de um Banco Central autônomo, que pouca gente gritou.
Depois foi a ameaça de demissão do secretário da Receita Federal. Mas o secretário Marcos Cintra mete tantos os pés pelas mãos que ninguém em sã consciência ficou com pena. E a ideia de transformar a Receita numa autarquia parecia ser uma alternativa para dar mais autonomia ao órgão.
Quem manda?
Na quinta-feira, 15, Bolsonaro anunciou a demissão do superintendente da Polícia Federal do Rio por “falta de produtividade”. Quando a PF chiou, o presidente rebateu na sexta-feira:
“Quem manda sou eu, vou deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu. Pelo que está pré-acertado, (o substituto) seria lá o [superintendente] de Manaus. Quando vão nomear alguém, falam comigo. Eu tenho poder de veto, ou vou ser um presidente banana agora? Cada um faz o que bem entende e tudo bem?”. No final do dia, Bolsonaro baixou a temperatura, mas a peixeira já havia riscado o chão. Quem manda é ele.
E o presidente ainda negocia a nomeação do novo procurador-geral.
Autoritarismo crescente
O que Coaf, Receita Federal, Polícia Federal do Rio e PGR tem em comum? As investigações sobre o senador Flavio Bolsonaro e os esquemas de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio.
A escalada autoritária de Bolsonaro é visível a olho nu. Antes da sua posse, ele provocou o fim abrupto do acordo com Cuba e desmantelou o atendimento de saúde básica em 3 mil municípios. No início do seu governo ele ordenou a punição ao fiscal do Ibama que o havia multado anos atrás. Depois vieram o veto à pesquisadora Ilona Szabó, o veto à propaganda do Banco do Brasil, a suspensão do reajuste do preço da gasolina, a MP acabando com a publicidade legal nos jornais, o cancelamento de contrato de advocacia da Petrobras, a demissão do presidente do INPE, a ameaça à Anvisa por estudar a liberação da maconha medicinal, as ameaças sobre a Ancine (“se eles não tivessem mandato, teria degolado tudo”, disse na quinta-feira), a decisão unilateral de acabar com os radares nas estradas federais, a demissão do secretário de imprensa por ter trabalhando antes para o PSB, a redução dos empréstimos da Caixa Econômica Federal às cidades do Nordeste e as doses diárias de ódio nas entrevistas e discursos.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil