Na segunda-feira, dia 5, o filho presidencial vereador Carlos Bolsonaro esteve no Palácio do Planalto. Ele se reuniu com ex-assessores seus da Câmara dos Vereadores que hoje estão na Secretaria de Comunicação, se encontrou com o ministro do GSI, general Augusto Heleno, a quem criticara anteriormente, e membro do gabinete presidencial. Um dia depois, as colunas dos jornais publicaram informações de queixas do presidente sobre o comportamento do ministro Sergio Moro, ora chamado de ingrato por não defender o presidente em entrevistas, ora de egoísta por só se preocupar com o andamento dos projetos do seu Ministério na Câmara.
O motivo real foi que Sergio Moro havia se reunido na semana anterior com o presidente do STF, Dias Toffoli, para reclamar da liminar que suspendeu o compartilhamento de informações do Coaf, que beneficiou diretamente o filho senador Flávio Bolsonaro. O presidente do Coaf, indicado por Moro, deu entrevistas criticando a medida.
Em quatro dias, a máquina de moer de Carlos Bolsonaro mostrou efeito. Todos os jornais publicaram reportagens sobre a fragilidade de Moro diante do presidente. Ressaltaram como indicador o fato de o presidente não pedir a opinião do ministro na escolha do novo procurador-geral.
Demissão no Coaf
Na terça-feira, 6, a comissão da Câmara dos Deputados rejeitou a inclusão no texto final do projeto de reforma penal a introdução do “plea bargain”, uma espécie de delação premiada simplificada no qual o Ministério Público pode oferecer uma redução de pena a um criminoso que ajudar nas investigações. Na quinta-feira, 8, Bolsonaro disse que o ex-juiz “não julga mais ninguém” e que com isso, não pode decidir sozinho. “Lamento, mas tem que dar uma segurada. Eu não quero pressionar isso aí e atrapalhar, tumultuar lá. Tantas outras propostas não enviamos para não atrapalhar a reforma da previdência”. Na mesma entrevista, o presidente anunciou a iminente demissão do presidente do Coaf e que pretende enviar um projeto de segurança pública “mais amplo” que o de Moro. Um dos pontos seria o excludente de ilicitude, que impede punições a policiais que matarem em serviço.
Depois da entrevista, Moro foi ao Palácio do Planalto se explicar. Argumentou que, com a aprovação da reforma da previdência na Câmara, o seu projeto não atrapalharia as iniciativas do governo. À noite, o ministro participou da transmissão semanal do pronunciamento de Bolsonaro via Facebook, onde foi submetido ao constrangimento de uma piada de conotação sexual do presidente. Ele disse que o projeto de reforma penal “não é do ministro Moro, mas do governo Bolsonaro”.
Café com o presidente
Na sexta-feira, 9, com todos os jornais ressaltando a fraqueza de Moro, o ministro foi convidado para um café da manhã com o presidente. Na saída, Bolsonaro contemporizou: “Logicamente, um ministro da ‘situação’ do Moro, no meu entendimento, veio para o governo com um propósito. E ele quer ver as suas propostas aprovadas. Ele tem consciência que não depende apenas dele, depende do Parlamento”. Em entrevista lado a lado, Moro defendeu o excludente de ilicitude, tão importante para o presidente.
O presidente e o ministro dançam um tango. Só funciona se ambos têm sincronia. Parte preponderante do bolsonarismo nasceu na torcida da Operação Lava Jato e JB sabe que esse público vê em Moro e não nele o símbolo da anticorrupção. Sem a Lava Jato, Moro é um general sem exército. A Vazajato maculou de modo irrecuperável a sua imagem de juiz imparcial e queimou as pontes com o Supremo e parte da mídia. Sua única rede de proteção hoje é o capitão. Mas, como se viu nessa semana, é o presidente que conduz a dança.
Foto: Caio César/CMRJ/Agência Brasil