As divulgações das trocas de mensagens dos procuradores de Curitiba pelo site The Intercept em parceria com Veja, Folha e Reinaldo Azevedo já haviam destruindo a confiança pública da Operação Lava Jato. Na semana passada, as divulgações passaram a ameaçar a própria sobrevivência da Operação.
A publicação de diálogos mostrando o esforço de Deltan Dallagnol em investigar o presidente do Supremo, Dias Toffoli, é cristalina na ilegalidade. Como ministro do Supremo, Toffoli só poderia ser investigado pelos procuradores da PGR, em Brasília, mas Dallagnol tentou por semanas avançar o sinal. Ex-filiado ao PT, Toffoli sempre foi visto pela Lava Jato como um adversário. Em um dos diálogos, Dallagnol sugere que recebeu da Receita Federal informações sobre pesquisas em andamento nas contas do escritório de advocacia da mulher do ministro.
Em reação às reportagens, o ministro Alexandre de Moraes determinou a suspensão imediata de procedimentos investigatórios instaurados na Receita Federal que atingiram ministros da corte e outras autoridades. Para Moraes, há “graves indícios de ilegalidade no direcionamento das apurações em andamento”. Além da suspensão, Moraes decidiu afastar temporariamente dois servidores da Receita por indevida quebra de sigilo apurada em procedimento administrativo disciplinar.
Reação do STF
É só o começo. Há um consenso hoje no STF que se não houver uma reação, a intimidação não terá fim. Os ministros do Supremo sempre se ressentiram do poder dos curitibanos, mas premidos pela opinião pública foram condescendentes com os excessos. Agora chegou neles. Sabe-se que além de Toffoli, a família de Gilmar Mendes foi investigada pela Receita. Os ministros Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello também eram vistos como resistentes pelos procuradores.
Considerado a partir de agora um inimigo pelo Supremo, Deltan Dallagnol perdeu as condições políticas de manter a Lava Jato de pé. A sua permanência como chefe dos procuradores de Curitiba contamina o futuro das investigações. Só a sua substituição pode manter o futuro das investigações e não transformar a operação toda como um alvo do Supremo.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil