22 de novembro de 2024
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Nas eleições de 2018, os dois candidatos mais bem posicionados da esquerda afirmaram que, se eleitos, fariam uma reforma da previdência. O ex-prefeito Fernando Haddad, do PT, afirmou que centraria a sua reforma nos servidores públicos, aumentando a alíquota de contribuição para 14%, reduzindo as vantagens de transição de militares, aumentando a contribuição patronal no setor rural e diminuindo as vantagens do sistema Simples.

O ex-governador Ciro Gomes, do PDT, foi quem pela primeira vez falou de incluir a previdência por capitalização, antes de Paulo Guedes ter se fixado na ideia. O programa de previdência de Ciro previa uma renda mínima de até dois salários mínimos e uma cobrança maior sobre quem ganhava mais, com decretação de idade mínima.

Como tudo na campanha de 2018, as propostas foram apresentadas superficialmente, mas confirmavam que havia um consenso de que quem quer vencesse a eleição faria uma reforma.

Responsabilidade financeira

Quando Paulo Guedes apresentou o seu projeto, vários governadores responsáveis – como o Rui Costa, da Bahia, o Wellington Dias, do Piauí, e Paulo Câmara, de Pernambuco – todos de oposição ao Bolsonaro, defenderam uma reforma. Eles criticavam vários pontos da proposta Guedes, mas todos sabiam na pele que a reforma da previdência deixou de ser uma questão de ideologia para virar uma questão de matemática. A questão passou a ser quem iria pagar mais e quem iria pagar menos.

Nas discussões de abril e maio, os deputados da esquerda se juntaram ao Rodrigo Maia e ao Centrão para retirar da reforma os trabalhadores rurais e os idosos miseráveis do BPC, contra a vontade do Paulo Guedes. Deu certo.

Ou seja, havia uma avenida para a esquerda apresentar propostas alternativas às do Guedes e proteger algumas categorias mais vulneráveis, como as donas-de-casa, as perdedoras dessa reforma. Podiam mostrar que tem responsabilidade financeira, mas com viés social.

Mas não.

Na hora do vamos ver, PT, PDT e PSB insistiram em negar a realidade. Preferiram o apoio cômodo das corporações de servidores a tentar uma reforma que podia beneficiar menos alguns privilegiados, como os militares e os policiais, e mais a população em geral.

Desconectados

Os sindicatos de servidores ameaçaram levar milhares às ruas para protestar contra a reforma, mas a adesão foi pífia comparada a outros tempos. A ameaça de quem “vota, não volta” foi completamente ignorada dessa vez. Os sindicatos sofreram uma derrota tão acachapante quanto o 7×1 do Brasil na copa de 2014.

Em condições normais, depois de uma goleada, o time tenta entender a derrota, mudar o seu padrão de jogo e talvez mudar o técnico. O que PDT e PSB estão fazendo é o oposto, ameaçando expulsar os deputados que votaram a favor da reforma. É como se orgulhassem de estar isolados. Se os partidos de esquerda não entenderem que parte fundamental da derrota de 2018 está ligada ao fato de o Estado brasileiro ter quebrado nas mãos do PT, vão perder eleição depois de eleição.

Foto: Arquivo/Agência Brasil

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