Diante da vitória, o ministro Paulo Guedes blefou. Sexta à tarde, em uma entrevista para comemorar o relatório da Comissão Especial da Reforma da Previdência, Guedes dobrou a aposta e reclamou do projeto.
“Eles (parlamentares) mostraram que não há compromisso com as novas gerações. O compromisso com os servidores públicos do Legislativo foi maior do que o com as novas gerações”, criticou. “Eu acho que houve um recuo que pode abortar a Nova previdência. As pressões corporativas de servidores do legislativo forçaram o relator a abrir mão de R$ 30 bilhões para os servidores do legislativo que já são favorecidos no sistema normal. Recuaram na regra de transição e como ia ficar feio recuar só para os servidores, estenderam também para o regime geral é isso custou R$ 100 bilhões”, afirmou, calculando a economia da nova proposta em R$ 860 bilhões, contra os R$ 913 bilhões divulgados pelo relator Samuel Moreira.
A resposta veio horas depois, por Rodrigo Maia:
“Nós blindamos a reforma da Previdência de crises que são, muitas vezes, geradas quase todos os dias pelo governo. Cada dia um ministério gerando uma crise. Hoje, infelizmente, é o meu amigo Paulo Guedes, gerando uma crise desnecessária”. Quem fez uma transição que beneficiou as corporações foi o ministro Paulo Guedes e o presidente da República”, afirmou. Ele disse ainda que as regras para as Forças Armadas pressionaram as corporações sobre o Parlamento, em uma referência à afirmação de Guedes de que o Congresso cedeu a lobby.
Quantos votos Guedes tem no Parlamento? Talvez uns 60 se somarmos o PSL ao Novo, que se tornou sublegenda governista. Com sessenta votos não se garante nem café quente nas garrafas térmicas, como está aprendendo o PT (54 deputados). Então, a grita de Guedes é comportamento de prima-dona.
O relatório do deputado Moreira é aprovável, o melhor substantivo que um projeto pode ter. Ele retirou Estados e municípios das mudanças nas regras de aposentadorias para forçar os governadores a articularem a aprovação de uma emenda para serem reincluídos na reforma. Em 2017, o país teria dado vivas à aprovação de um projeto de menos de R$ 500 bilhões do ministro Henrique Meirelles. Era o possível naquele momento. Hoje, com os Estados mais quebrados e a sociedade mais informada, é possível uma reforma entre R$ 900 bilhões e R$ 800 bilhões. Guedes não deveria reclamar quando a fortuna lhe sorri.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil