A pesquisa XP divulgada na sexta-feira, 24, confirma a queda na aprovação de Jair Bolsonaro, já detectado pelo Ibope e Datafolha. Todos confirmam que há mais brasileiros que reprovam o governo JB do que os que aprovam, um feito inédito em cinco meses de governo. A pergunta natural é para onde vão os desiludidos com o Bolsonarismo?
É certo que não irão para a esquerda, ainda há um ódio que amálgama a maior parte dos eleitores das regiões Sudeste e Sul. Três opções tentam dar abrigo aos desiludidos, o governador João Dória (PSDB), o executivo do Unibanco João Amoêdo (Novo) e o apresentador de TV Luciano Huck (sem partido). Por partes:
● João Dória é pré-candidato a presidente mais organizado. Trouxe Henrique Meirelles para ser seu secretário da Fazenda e montou uma equipe vistosa no governo de São Paulo. Tem respondido com rapidez à crise econômica, seja através do acordo para manutenção da fábrica da General Motors em São Caetano, seja pelo plano de criar um polo de startups onde hoje está o Ceagesp. O front onde Dória pode ter problemas é o administrativo, com a estranha reforma no calendário escolar e as mudanças no sistema de integração de transporte.
Doria vai assumir o controle do PSDB nos próximos dias, o que lhe assegura um partido médio, mas também um ônus. No imaginário popular, o PSDB é tão corrupto quanto o PT. Com o PSDB, cairá no colo de Dória a responsabilidade por uma legenda que tem Aécio Neves, Beto Richa e Marconi Perillo.
● Existe uma piada no mercado financeiro, a de que João Amoedo na verdade venceu as eleições do ano passado porque agora todos os bolsonaristas dizem que, na verdade, votaram no Novo. Fenômeno das eleições de 2018, João Amoêdo conseguiu do zero chegar a 2,5% dos votos no primeiro turno. Seu partido é uma das experiências mais interessantes da política atual, com seus cursos de formação e incentivo a estreantes, em uma versão brasileira do em Marche de François Macron. O Novo venceu o governo de Minas Gerais, com um governador ainda com dificuldades em lidar com problemas reais, como Brumadinho.
Seu maior ônus para 2022, porém, será o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, que foi candidato a deputado pelo Novo. Salles é o pior ministro do Ambiente da história, com uma agenda de liberação de licenciamentos, frouxidão no controle de desmatamento e flexibilidade para liberação de agrotóxicos. O Novo não conseguirá manter um discurso do século XXI se não repudiar o ministro do século XIX.
● Luciano Huck poderia ter vencido as eleições de 2018 se tivesse concorrido e convive com essa dúvida todos os dias. Seu projeto de apoio a novos congressistas foi um êxito e o apresentador tem recusado compromissos comerciais em 2022. O Partido Popular Socialista mudou o seu nome para Cidadania apenas para permitir que o liberal Huck se sinta confortável.
Huck terá ainda anos para explicar como poderá representar a “nova política” a partir da sua relação de sociedade indireta com Aécio Neves.
Doria, Amoêdo e Huck votaram em Bolsonaro no segundo turno, mas nunca serão candidatos do bolsonarismo. Eles precisam descobrir o momento de pular do barco para obter seu espaço. Em entrevista à Folha de S. Paulo neste domingo, 26, Amoêdo iniciou um trajeto ao dizer que não estava frustrado como o novo governo porque “na verdade nunca havia alimentado grandes expectativas”. Ele disse ainda que se estivesse no lugar de Bolsonaro:
A primeira coisa que eu faria seria selecionar as pautas prioritárias. E eu colocaria a reforma da Previdência como a número um, estaria falando disso a todo momento, mostrando para as pessoas que o sistema, além de insustentável, é injusto.
O segundo ponto seria ter uma equipe muito alinhada, sem desavenças, em que a gente não ficasse falando de coisas que não interessem, não ficasse ouvindo opiniões de pessoas que não estão participando do governo e estão dando palpites a todo momento.
Em terceiro, diálogo com o Congresso. O tamanho da resistência você só sabe na prática, né? Mas acho que esse é um roteiro que parece ter mais chance de sucesso do que abrir tanta polêmica. Eu não teria aberto uma polêmica na área da educação contra a parte ideológica nesse primeiro momento.
Jair Bolsonaro luta pela sua sobrevivência. Por dezenas de vezes ao longo da campanha e já no cargo, o presidente alertou publicamente sobre a possibilidade de uma tentativa de afastá-lo do cargo. A hipótese parece hoje remota, mas é importante ter em conta que o presidente considera que está em curso uma operação para a sua deposição.
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil