21 de novembro de 2024
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Todo comandante da economia do Brasil demonstra doses diárias de entusiasmo e paranoia. A primeira característica ajuda nos discursos otimistas que deveriam servir para inspirar consumidores e investidores a abrirem seus bolsos. Assim, nas palavras do ministro de qualquer governo, este ano será sempre melhor que o anterior, a inflação e o desemprego vão cair e o PIB subir e sempre há maioria no Congresso para aprovar os projetos governamentais. A lábia confiante é exigência sine qua non para virar ministro, mas é a paranoia que o faz permanecer no cargo.

Na entrevista que concedeu à Globonews na quarta-feira, 17, o ministro Paulo Guedes abusou do entusiasmo e minimizou a paranoia. Guedes negou que tenha tido sua autonomia atingida por decisões do governo de Jair Bolsonaro, “nem no episódio do petróleo”, se referindo à interferência do presidente no reajuste do preço do diesel. “Não posso me queixar, o presidente tem me dado apoio”, afirmou. Foi comovente como o ministro justificou as dúvidas do presidente, como se ele fosse inimputável pelos R$ 32 bilhões de perda para os acionistas da Petrobras na semana passada. Guedes tentou justificar até mesmo a péssima imagem de Bolsonaro no Exterior como vítima de uma campanha petista, até ser confrontado com a frase de que “nazismo é de esquerda”. Sem jeito, Guedes disse que “o presidente tem direito a sua opinião”.

Ao que parece, o ministro menospreza os efeitos de Bolsonaro. É a agressividade do presidente, dos seus filhos e do ministro Onyx Lorenzoni que mantêm o clima de polarização no Congresso, incapaz de aprovar uma única lei vinda do governo. É da falta de foco do presidente que impede alianças episódicas, mas fundamentais com a oposição para avançar a reforma da previdência. Foi Bolsonaro, e ninguém mais, que trincou a confiança do mercado com o compromisso do governo com o livre mercado.

O ardor do ministro na defesa da reforma é digno de aplausos, mas ele tem uma vantagem sobre todos nós, mortais. O Ministério da Economia até agora não apresentou os dados de como chegou ao cálculo de que o projeto original da Reforma da Previdência trará uma economia de R$ 1,1 trilhão em dez anos. Isso significa que Guedes é o único referencial ao dizer que, por exemplo, a exclusão do capítulo do BPC terá pouco impacto no total.

O entusiasmo, no entanto, vira ingenuidade no caso da capitalização. São notórias as resistências do Congresso à capitalização, especialmente depois de Guedes ter condicionado o novo sistema a uma aprovação quase total da proposta original. Se manter a proposta de capitalização implica em ter menos margem de manobra para dar mais vantagens aos eleitores, por que os deputados vão se restringir? Adivinhe qual será a escolha dos deputados entre minimizar os efeitos da reforma para (por exemplo) professores ou trabalhadores rurais que votam hoje e abrir a possibilidade de um novo sistema de aposentadoria para futuros aposentados em 40 anos?

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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