Inícios de governos são caóticos. Ministros inexperientes não conhecem os procedimentos do serviço público e terminam tomando decisões atabalhoadas, o discurso ainda não está unificado e as trocas de pessoa geram tensões naturais, Dito isso, os primeiros dias do governo JB são mais caóticos que os de Michel Temer (que assumiu sem ter tido uma transição) e de Lula (que tinha uma equipe sem ninguém com passagem anterior no ministério). São três os motivos:
O presidente
O mais óbvio é o presidente. Ao longo da campanha, Bolsonaro e seu filho Carlos (que manipula as mídias sociais do pai há anos) se acostumaram a falar de vinte assuntos diferentes em um fim de semana. É o normal, afinal durante uma campanha eleitoral todo o foco está sobre o candidato. Num sistema presidencialista e personalista como o brasileiro, é o candidato que deve responder sobre tudo, de segurança pública à saúde, de ambiente à geração de emprego. Bolsonaro foi o primeiro candidato presidencial confortável no papel de tuiteiro geral da nação. Funcionou.
Como presidente, porém, essa ânsia de JB e de Carlos Bolsonaro gera muito calor e pouca luz. O perfil do presidente no Twitter já foi usado para bater boca com o candidato derrotado Fernando Haddad, criticar a mídia um sem número de vezes.
Demissões sem critério
A decisão do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de demitir sem critérios dezenas de servidores paralisou milhares de atos do governo. A situação é tão esdrúxula que servidores que querem ser demitidos precisam ficar para conduzir o processo de demissão e admissão de centenas de pessoas que queriam ficar. Se fosse diretor de recursos humanos, Onyx teria sido sumariamente afastado.
Comunicação amadora
A falta de uma comunicação profissional. O problema não é o excesso de tuítes presidenciais. O problema é o vazio de informação oficial na hora da divergência. Na semana passada, o presidente anunciou um novo imposto às 11h e foi desmentido pelo secretário da Receita às 15h30. Somente às 18h, o Planalto informou que o presidente estava errado. Na quarta-feira à noite, o ministro das Relações Exteriores anunciou a demissão do presidente da Apex, que se recusou a aceitar a ordem. Somente na quinta-feira à noite a demissão foi confirmada. Sem entrar no mérito das duas situações, esse vácuo da informação oficial é amadorismo
Foto: Evato/microgen