A pressa é uma marca do governo Bolsonaro e do momento que o cerca. Da forma como foi eleito, Bolsonaro catalisa um senso de urgência que, da mesma forma que o beneficiou, exige um desempenho muito acima da média devido à expectativa. O presidente da holding de investimentos do Itaú Unibanco, Itaúsa, Alfredo Setúbal, deu o tom em uma entrevista ao Estadão:
“Vamos ver como o técnico em campo vai performar para ganhar o campeonato. E não é um campeonato de pontos corridos, é de mata-mata. Se as reformas não forem aprovadas, o governo vai sofrer muito”, disse comparando a aprovação da reforma da previdência a um jogo decisivo em um sistema classificatório que, se perdido, pode eliminar a equipe de todo o campeonato.
Primeira missão: reforma da Previdência
Nas últimas décadas, todos os presidentes assumiram com uma missão, dada pelas circunstâncias ou pelos próprios. Ernesto Geisel tinha de manter o milagre econômico e iniciar o desmonte da ditadura militar. João Figueiredo assumiu a abacaxi da dívida externa e a missão de encerrar de vez o regime militar. José Sarney tinha de fazer a transição para a democracia e Fernando Collor assumiu prometendo acabar com a inflação com um único tiro.
Queira Jair Bolsonaro ou não, a sua missão imediata é aprovar uma reforma da Previdência, primeiro e fundamental passo para o país retomar o crescimento. Num tom parecido com o de Setúbal, só que três dias antes, o presidente do Citi, Marcelo Maragon, deixou isso claro. “Não trabalhamos com esse cenário (de não ocorrer a reforma)”, disse. O jogo está colocado. Bolsonaro sem reforma da Previdência é como Sarney com a moratória ou Collor com o fracasso do combate à inflação.
A popularidade inicial e o fato de a equipe econômica estar concentrada no projeto são pontos positivos para o novo governo. Os riscos estão na condução política.
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