22 de novembro de 2024
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“A China está comprando o Brasil”, repetiu o presidente Jair Bolsonaro em inúmeros discursos durante sua campanha eleitoral. “Não podemos abrir as nossas terras agricultáveis”, disse ao criticar as aquisições chinesas no Brasil, especialmente de terras. Uma vez eleito, resta entender se a fala de Bolsonaro irá de fato reverberar na prática do governo. A fim de entender o cenário político-econômico que se desenha à frente, a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC) promoveu, no dia 29 de novembro, no CCBB-RJ, o seminário “Cenário Pós-Eleições no Brasil e Futuros Negócios com a China”, ministrado por Thomas Traumann. Também falaram à plateia os especialistas em comunicação Fernando Thompson e Danilo Fariello.

O evento teve a participação do cônsul chinês no Rio de Janeiro, Li Yang, do presidente da CCIBC, Charles Tang, e contou ainda com a presença do vice-cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Brian Shelton, bem como representantes da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, além de empresários e advogados. Traumann abriu a palestra discorrendo sobre o projeto de governo que elegeu Bolsonaro, ancorado no nacionalismo, na valorização dos militares, no antipetismo e no combate ao crime, à violência e à corrupção. “É inegável que esse projeto não será de 4 anos, e sim de longo prazo. É gradativo”, avaliou o consultor. “A chegada do governo Bolsonaro é muito similar à do governo do PT em 2003, que também tentou atropelar o congresso e mudar o Brasil em 6 meses. Com o tempo, perceberam seus limites. Isso é o que a história nos ensina”, comparou.

Em seguida, Traumann elencou as bases de sustentação do governo, destacando, por exemplo, a importância das Forças Armadas na atual gestão. “Houve uma mudança muito importante na inteligência militar brasileira nos últimos anos. Tanto o general Heleno quanto o general Mourão, que é o vice-presidente, são pessoas que têm uma visão diferente, mais prática e pragmática, sobre a atração de capital estrangeiro e sobre as relações exteriores”, pontuou, lembrando que Bolsonaro representa uma chance de reformar a reputação das Forças Armadas brasileiras. Quantos aos chineses, o consultor avalia que não há risco às relações comerciais das duas nações. Entre os projetos de infraestrutura que configuram outra importante base do governo Bolsonaro está, por exemplo, a construção da ferrovia transoceânica, projeto que deverá contar com investimento chinês.

Quanto aos riscos para o sucesso deste governo, Traumann apontou a própria família de Bolsonaro, que tem provocado ruídos no processo já naturalmente caótico de transição, como a visita de Eduardo Bolsonaro à Casa Branca usando um boné com os dizeres Trump 2020 (“Eduardo não tem mandato para isso. Dá a impressão de improviso nas relações do governo”, avalia), e o núcleo político formado pelo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e por Gustavo Bebiano, ministro da Secretaria-Geral da Presidência. “Essa dupla é o que mais me preocupa. Eles são muito fracos, não conseguem votar nada”, disse o palestrante. 

Sobre o superministério de Paulo Guedes, Traumann lembrou que esta não é a primeira vez que o Brasil tem um superministro. O último foi Marcílio Marques Moreira, no governo Collor. Ele comandou as pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria – e apanhou por causa da crise política. “As duas experiências que tivemos foram ruins, o que não significa que essa agora será. A equipe de Paulo Guedes anunciada até agora é uma das mais brilhantes que tivemos na história da economia brasileira”, enfatizou.

O verdadeiro calcanhar de Aquiles do governo, no entanto, é a reforma da previdência. “Essa não é uma questão de escolha, e sim de sobrevivência do Estado brasileiro. Se não for apresentado um plano, haverá descrença sobre a capacidade do governo de arrumar suas finanças”. O resultado seria o que Traumann chama de “efeito Macri” – o presidente argentino assumiu após o desastroso final do governo Kirchner com enorme boa vontade do mercado internacional e um tremendo sopro de renovação, mas não conseguiu aprovar as reformas necessárias nos primeiros tempos e hoje comanda um governo não apenas impopular, mas às voltas com o FMI. No Brasil, resta saber como as peças se movimentarão no conturbado jogo político.

Confira no link a palestra apresentada por Thomas Traumann.

Colocamos aqui à sua disposição o conteúdo das palestras.
Apresentação: A importância da China para o Brasil
Apresentação: O Brasil que Emerge das Urnas

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